Porque é que Centeno não é tão bem visto lá fora?

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Não escapa às comparações com Jeroen Dijsselbloem, o seu antecessor no cargo. Mas, para o bem e para o mal, Mário Centeno não é o holandês. Faltam-lhe o jeito para comunicar e o pulso natural para conduzir reuniões. Mas há quem olhe para ele como o homem que pode mudar o Eurogrupo

Eurogrupo é um sala de leões das Finanças, reunidos à porta fechada, capazes de intimidar quem chega pela primeira vez. Mário Centeno já não é o ministro que há três anos entrava, tímido e pouco à vontade, e que até a reunião começar ficava em pé, junto à cadeira de Portugal, à espera que outros colegas fossem falar com ele.

Agora é o presidente, tem um lugar no topo da mesa, e uma campainha dourada para pôr ordem nos egos e nas discussões.

"Ele encontrou o seu lugar como presidente do Eurogrupo", diz ao Expresso o ministro francês das Finanças.

Para Bruno Le Maire, Mário Centeno tem "um misto de calma, bom humor e retidão que é apreciado no seio do grupo" dos 19 ministros da moeda única. Os alemães também dão sinais de uma boa relação com o português, e nas instituições várias vezes se referem a ele como um "nice guy", mas nos bastidores e off the record, quando os microfones estão desligados, nem todas as opiniões são positivas. Dentro e fora das reuniões há quem tenha saudades da forma firme como o seu antecessor, Jeroen Dijsselbloem, conduzia os encontros e era rápido a encontrar soluções.

Na sala de imprensa são várias as críticas à forma como o português que passou por Harvard comunica.

O problema não é a língua inglesa, o problema é ficar agarrado ao papel quando à frente dele estão dezenas de correspondentes à espera de um rasgo político. Centeno tem trabalhado para controlar o sorriso nervoso, mas há quem continue a queixar--se da ausência de respostas. Falar da prestação de Centeno, seja com jornalistas ou com responsáveis europeus, acaba sempre na comparação com o anterior presidente.

"Centeno não vai ser tão arrogante, nem tão displicente com quem não pensa como ele", diz o correspondente do "El Mundo" em Bruxelas.

Ao mesmo tempo, Pablo R. Suanzes não poupaíticas à postura de "construtor de consensos" e à ausência de opiniões políticas fortes. "Tenho a impressão de que ele nunca diz o que pensa sobre tema nenhum", conta ao Expresso.

Passar de ministro pouco interventivo a líder tem um preço e pode gerar incómodos. O primeiro arrufo aconteceu a 21 de junho. Os holandeses irritaram-se quando perceberam que Mário Centeno tinha decidido escrever uma carta ao presidente do Conselho Europeu, para falar de um orçamento para a zona euro com o qual não concordavam. E não foram os únicos. 

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