O DUCHE

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O duche diário é um hábito antigo, mas não primordial. Lembro-me bem quando, na casa paterna, não existia um sistema eléctrico ou de gás para o aquecimento das águas dos banhos e estes se tomavam duas vezes por semana.

O Senhor meu pai tinha arquitectado um divertido sistema que, na sua forma elementar, não era mais do que um grande balde suspenso ao tecto por uma argola e com um dispositivo de corda corrediça que o permitia fazer subir e descer. A Senhora mãe, na cozinha, afadigava-se em torno de enormes vasilhas de água aquecida. Era essa água que era colocada no tal dispositivo. Nessa altura, sendo eu pequeno e impúbere, ainda a mãe me surpreendia a nudez quando me aprestava para o acto higiénico. E dizia-me : - Filho, quando abrir a água contas até vinte e ficas todo molhado. Depois, eu fecho. Irás ensaboar-te todo, ouviste? Depois de ensaboado, eu volto a abrir a água. Tens de a aproveitar muito bem, porque irás retirar o sabão do corpo todo. Contas até cinquenta. Atingido esse número, a água quente acaba. Se te descuidares, terás de remover os restos de sabão com água fria. Mas contando até vinte, porque ela também custa dinheiro ...

Ainda hoje o meu duche se desenvolve de acordo com este cerimonial: no início, molho-me muito bem, mas brevemente; depois ensaboo-me e volto a remover a sabonária corporal. Depois, a acabar, ligo um jacto breve de água fria. É que, mesmo na casa paterna, nunca consegui realizar a última operação contando até cinquenta. Ficou-me o hábito, até hoje. O pai dizia, a rir-se, que o que eu gostava mesmo era de duche escocês.

Imagem retirada da net

Amadeu Homem