NOUTROS TEMPOS

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Corria o ano de 1199.

Ainda de madrugada, o Rei D. Sancho I saiu de Coimbra com o seu numeroso séquito a caminho de Belmonte onde iria conceder foral àquela vila serrana.

A meio caminho, mandou parar numa propriedade de um nobre nas margens do rio Alva.

Eram 10 horas da manhã e foi recebido com grandes mesuras e vénias pelo proprietário que, de imediato, mandou matar dois vitelos que iria mandar assar para repasto do Rei e da sua comitiva.

Este procedimento não era uma simples cortesia. Era normal e obrigação dos ricos-homens darem estalagem e alimentação ao Rei e ao seu séquito pelo tempo que demorasse a sua visita.

D. Sancho disse-lhe que estava fatigado da viagem e ordenou-lhe que lhe indicasse aposentos para descansar.

A um sinal do rico-homem,  a mulher deste levou o Rei para a casa senhorial e indicou-lhe o melhor quarto onde Sua Majestade poderia recuperar energias.

O Rei pegou no braço da jovem mulher e arrastou-a para a alcova onde desfrutou do seu belo corpo durante algumas horas.

Por volta das 3 da tarde o rico-homem foi ao quarto, entreabriu a pesada porta, enfiou a cabeça e, respeitosamente, comunicou ao Rei que o banquete estava servido.

Claro que não deixou de ver a sua mulher a dormitar no peito cabeludo e Sua Alteza Real, mas nada disse.

Logo que D.Sancho se encaminhou para a mesa montada em frente à casa dando início ao repasto juntamente com os seus acompanhantes, o proprietário da quinta senhorial, chamou uma dúzia de trabalhadores e ordenou-lhes que se servissem da sua mulher.

Em seguida, mandou que lhe tosassem o cabelo, e que lhe colassem, na pele do seu corpo nu, penas de galinha e de pato.

Mandou que a montassem no dorso de um burro virada para as traseiras do animal que espantou com uma chibatada.

O burro, com a mulher nua em cima aos gritos, desatou a zurrar desaparecendo em louca correria no pinhal próximo.

O Rei soube do que se tinha passado e disse ao homem:

- Não era preciso exagerar tanto! Tens de aprender a administrar a justiça de forma mais civilizada.

O homem retorquiu:

Assim farei, meu Senhor, quando voltar a acontecer.

Rui Felicio