ENCONTROS CINEMATOGRÁFICOS: REMAR CONTRA A MARÉ

Povo-que-Canta-na-Igreja-de-Aldeia-de-Joanes.JPG

Num tempo que teima em desaparecer, ainda subsiste um vento desta Gardunha florida, agora de encontros numa tela de cinema.

A 7ª Arte, onde a representação se mistura com a fotografia ou a música, persiste e resiste nestas Terras do Fundão, onde heroicamente se partilham pelas gentes do interior histórias de vida, experiências, sonhos, memórias.

É a luta por manter vivos estes testemunhos e mais uma vez o Fundão é o ponto de encontro de diferentes culturas, cinematografias, países. Lugar para pensar e pulsar a região, o país e o mundo à roda dos filmes.

Imagino chegar de cavalo à Igreja Matriz de Aldeia de Joanes, puxando a carroça dos azeites, acompanhado pelo meu amigo António Alçada que desde garoto adora o cinema europeu.

Emociono-me ao ver na Aldeia companheiros de várias partes do globo e de Portugal. Conheço a grande poetisa do Alentejo Virgínia Dias e leio nos olhos dela uma ternura maior que todas as telas de cinema.

Vejo as pessoas que cantaram nas ceifas e nas sachas das batatas, os seus familiares, as que estão vivas e as que ressuscitam por breves instantes na projecção cinematográfica do nosso “Povo que Canta”. Entram de mãos dadas e saem de olhos chorosos de saudade.

A Igreja torna-se um templo de emoções e as canções que não morrem enchem o coração de quase duas centenas de pessoas.

Segue-se um almoço comunitário no restaurante “O Fernandes”, onde o convívio, a amizade e a fraternidade emolduram o tempo. Na minha mesa está a Patrícia Campos, uma linda menina que conversa com o meu filho Mário. Este Encontro tem grande significado para mim.

Os Encontros Cinematográficos têm de continuar com toda a autenticidade e o poder das gentes.

Recolhi, ajudado pela generosa Marta e pelo irmão Alçada, alguns testemunhos de convidados e espectadores que estiveram no Fundão nestes dias:

Lise Bardou: “Sente-se a verdade, aqui o tempo não existe. Saúdo ver esta iniciativa engrandecida. Bravo e obrigado!”

Pierre-Marie Goulet e Teresa Garcia: “Os Encontros Cinematográficos merecem bem o título que escolheram: ao contrário de muitas manifestações cinematográficas onde a vontade de protagonismo se cruza com rivalidades, corridas ao prestígio e ao no sense das competições. 
O que encontrámos no Fundão foi outra coisa: trocas e partilhas, de filmes, de pessoas num clima sempre genuíno; é tão raro…
Por isso e pela calorosa hospitalidade, estamos agradecidos”.

Eunice Azevedo: “Nunca tinha estado no Fundão, sem ser de passagem. Também nunca tinha vindo a estes Encontros feitos de bons filmes, boa companhia e óptimas conversas. Quero voltar e espero que seja já para o ano. Muito obrigada!”

Luís Miguel Cintra: “Caloroso ambiente mais humano que cinéfilo graças a Deus e sem preconceitos comerciais ou de mercado. Dias Felizes.”

Ana Luísa Guimarães: “Gostei muito do ambiente caloroso, próximo, com verdadeiros encontros entre as pessoas e entre estas e os filmes. Fala-se de cinema e sente-se um verdadeiro amor pelos filmes. Obrigada”.

Ivana Milos: “Nos Encontros uma pessoa sente-se mais perto da paisagem, das montanhas e gentes que nos rodeiam, e também do cinema. Não há nada remotamente parecido em nenhum festival onde estive anteriormente. Há um calor que nos abraça, os poucos filmes mostrados (não assim tão poucos) envolvem-nos, oferecendo-se generosamente um espaço para os filmes crescerem nos sentidos e pensamentos dos participantes, e se juntarem à nossa vida. É a mais poderosa e completa forma de ver filmes que alguma vez experimentei. É um Encontro no verdadeiro sentido da palavra, superando as barreiras e dando vida, primavera, toque e luz”.  

Patrick Holzapfel: “Se fotografasse a minha experiência nos “Encontros” numa expressão facial, seria um sorriso sério. Sério porque lembra-me que o cinema tem uma relação muito forte e essencial com as pessoas. Sorriso porque é uma celebração a não esquecer do que o cinema pode ser.”

Mierien Coppens:“Esta é a minha última semana em Portugal e não consegui imaginar um melhor sítio para estar do que nestes Encontros no Fundão. É uma maravilhosa iniciativa e estou muito curioso para ver a programação nos próximos anos.”

Pablo Llorca:“Adorei conhecer estes Encontros. A programação é muito variada e de grande qualidade, de Borzage a Oliveira. Também gostei muito do convívio, de todos se juntarem tanto para ver filmes como para celebrar o aniversário do Luís Miguel Cintra. Foi muito divertido estar com todos, em especial com o Miguel Marías, a Reyes e o Luís Miguel Cintra. Adorei ouvir o Luís Miguel falar sobre o seu trabalho comigo, com o Oliveira e o Monteiro. Tive pena por não ter conseguido estar mais tempo no Fundão, mas tenho muito trabalho e como estava com parte da minha família e o tempo bastante frio para a nossa filha de 3 anos, tive que regressar a Espanha antes do final dos Encontros.”

Marta Mateus: “Se o cinema estiver, esteve ou está, numa encruzilhada, há os que se perdem. Aqui encontram-se os Homens e as Mulheres com o cinema. Obrigada.”

Marta Ramos: “Estes Encontros promovem e multiplicam a proximidade entre as pessoas e os filmes. Ao longo das suas edições é bonito constatar as amizades e as ligações que já promoveu. Porque as vidas são feitas de encontros e os filmes também podem ser a maneira de nos sentirmos amigos de quem não podemos conhecer (não se coincide no mundo com todos os que admiramos) e um factor de união não só na plateia. Tudo isto tem que continuar. Obrigada pela generosidade de todas as pessoas que por aqui passaram”.

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Maio/2018