As barreiras a uma vida com independência

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António Guterres, na linha da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, afirma que a “inclusão de pessoas com deficiência é um direito humano fundamental”, e que só garantindo o seu pleno respeito se pode defender “os valores e princípios da Carta das Nações Unidas”.

Para Guterres há ainda “um longo caminho a percorrer na mudança de mentalidades, de leis e políticas para assegurar os direitos à dignidade às pessoas com deficiência”.

Esse longo caminho passa pela mudança de mentalidades, de cultura, de civilização.

Os direitos plasmados na Convenção ainda não são uma realidade na sociedade.

O primeiro Relatório da ONU sobre Deficiência e Desenvolvimento denuncia situações preocupantes. Os níveis de pobreza e o acesso ao emprego são alarmantes, de uma desumanidade preocupante.

Guterres alerta que essa discriminação atinge muito particularmente as mulheres nos locais de trabalho.

Estão em vigor “quotas” de emprego para deficientes. Mesmo com quotas, o desemprego entre os deficientes aumentou.

No mercado de trabalho, o diagnóstico está longe da justiça, Entre 2011 e 2017 o desemprego registado entre as pessoas com deficiência aumentou 24%.

Estes números contrastam com a queda de 34,5% no desemprego registada na população em geral, nesse mesmo período.

A “taxa de emprego na população com deficiência moderada está 20 pontos percentuais abaixo da população sem deficiência. Mas se falamos de pessoas com deficiências graves, essa relação desce para metade.

A conclusão a tirar é que as medidas não têm sido suficientes para criar emprego para as pessoas com deficiência, nem para a manutenção no trabalho aos que estão empregados.

Guterres diz que “é necessário fazer mais para enfrentar a discriminação e a exclusão, particularmente contra as mulheres” nos locais de trabalho, assim como nas atividades da vida social.

No longo processo da escola inclusiva, ainda longe de acabado, de início, as preocupações pareciam ser os equipamentos sociais com as barreiras à mobilidade. Depressa se chegou que as grandes barreiras estavam nas pessoas, nos preconceitos das pessoas, na conceção de escola para os mais perfeitos, para os ditos “normais”. Para os outros, para os deficientes, ficavam os restos, a compaixão, a caridade. Discriminados.

No processo da escola inclusiva, demorou anos, ainda há quem não aceite as diferenças, os ritmos de trabalho e de aprendizagem dos mais incapacitados, dos deficientes.

Os ditos “normais”, os não deficientes, no mundo feito para eles, nos seus pedestais de perfeição, resistem ao colega e parceiro com deficiência.

A primeira barreira a destruir é a da importância dos mais perfeitos, e talvez mais preparados nesta selva social da competição à cotovelada, empurrando os mais incapacitados.

No trabalho, necessário para uma vida com independência, o deficiente está sempre em desvantagem em relação aos outros.

O esforça físico que lhe é pedido por tarefa é sempre mais penoso e desgastante. O tempo é mais longo para a mesma tarefa. As exigências de constante e permanente formação são mais penosas e mais caras, e também mais desgastantes para as pessoas com deficiência.

E a propósito, esta notícia: “Jovem com deficiência física é abandonado quando tentava migrar com outros”.

E do Papa Francisco: “O mundo está cada vez mais cruel com os excluídos”.

Imagem retirada da net

 

Manuel Miranda

miranda.manel@gmail.com