137º ANIVERSÁRIO DAS IRMÃS HOSPITALEIRAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

 

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“Que Alegria poder invocar o nome de MARIA” (São Bento Menni)

 

Há Instituições, que por vezes nos passam ao lado e tão perto de nós, repletas de riquezas humanas incomparáveis e quase despercebidas. Ouvimos ocasionalmente falar delas, mas desconhecemos completamente os serviços que prestam às sociedades, no servir o bem comum e a saúde dos mais pobres e desprotegidos.

 

No dia 31 de Maio de 1881 nasceu esta Instituição - a Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus-, na localidade de Ciempozuelos – Madrid - fruto da inteligência, dinâmica e acção de São Bento Menni, das Irmãs Religiosas Maria Josefa e Maria Augustias. Foi obra que durante 137 anos se espalhou pelo Mundo.

 

Na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel em Condeixa-a-Nova, na maior das simplicidades, sem convidados especiais, alguns com obrigações de estarem presentes, comemorou-se tão importante data, num dia de antecipação da Festividade do Corpo de Deus.

 

O momento mais importante foi a Celebração da Eucaristia de acção de graças a Deus pela existência das Irmãs Hospitaleiras. Foi celebrante o Padre Pinto, Missionário Franciscano. Não sei porquê, até sei, os Missionários têm dons que nos entram pela alma dentro. Veio-me à memória o Padre Jacob, Missionário de S. João Batista de Gouveia, que em terras de Moçambique percorreu caminhos de evangelização em motas e jipes velhos, gastos pelo tempo, cheios de peças sobressalentes, e uma caixa de primeiros socorros com escassos medicamentos de sobrevivência, a lembrar a ração de combate na Guiné.

 

Recordo o Padre Luzia da Malhada Sorda – Almeida -, que começou com a missão naquele país, seguiu para as periferias de Lisboa e já regressou a África. Estes aprenderam a concretizar a palavra missão conjugada com acção. Vivem em comunidades e fazem votos de pobreza, de humildade e humanidade: acudir os mais pobres, doentes, necessitados… sem olhar a bolsas, alforges de vencimentos, emolumentos, créditos, calendários ou horários de trabalho. Estão permanentemente ao serviço. Estão em MISSÂO.

 

No início da Celebração, a minha conterrânea da Nave (Sabugal), a Irmã Hospitaleira Josefina, leu uma mensagem da qual retive algumas notas.

 

São Bento Menni e as primeiras Irmãs lançaram com total confiança a Fundação nos braços de Nossa Senhora do Sagrado Coração de Jesus. Pela vontade de Maria, Mãe de Jesus, nasceu a Congregação. A Irmã Maria Augustias afirmou: ”nunca nos vimos tão alegres…pois este dia completou o anseio dos nossos desejos.”

 

A Irmã Josefina lançou-nos o desafio: “deixemo-nos também incendiar pelo fogo divino da caridade, que não conhece limites, porque nasceu no Coração de Jesus. Unidas a toda a Congregação, louvemos a “NOSSA MÃE”, pelas graças derramadas na Congregação, pedimos-lhe a sua contínua proteção, para continuar a frutificar as nossas vidas, levando-as ao coração dos nossos doentes, desamparados do auxílio do mundo, e pedimos perdão por não termos sido sempre instrumentos de misericórdia, de compaixão, como Deus deseja de todos nós.”

 

O Padre Pinto, discípulo de S. Francisco de Assis, cumprimentou todos os presentes e eram muitos, referiu que somos uma Família, reflectida nos olhos e nos rostos de cada um. Pediu um grito bem alto - “BOM DIA IRMÃOS!” - e solicitou para não esquecermos a palavra IRMÃO, que estará sempre ao nosso lado nos corredores, salas, alas, ateliers, unidades, campos rurais de flores e sementeiras que nos cercam. Interessante e para registar, a coincidência do dia 31 de maio, dia da Fundação das Irmãs Hospitaleiras, ser o Dia Mundial dos Irmãos.

 

Bonita coincidência para festejar com muita alegria e exuberância esta data no espaço das nossas vidas e nas memórias de cada um.

 

As nossas Igrejas sem carinho, ternura e hospitalidade não têm missão, têm simples função, são paredes. Olhamos para todos os Funcionários desta Casa e, além dos dotes profissionais, têm amor, misericórdia, compreensão, missão de tratar todos os doentes aqui internados.

 

Celebrar é viver, cento e trinta e sete anos de missão não é possível contabilizá-los em folhas de Excel. Aqui temos MÃES. Ao meu lado, uma doente limpa a boca e o nariz a uma companheira de sofrimento, uma Irmã suaviza e acaricia o rosto carregado de ansiedades de uma doente. Pouco tempo depois, uma outra Irmã Hospitaleira ajuda doentes incapacitados, dando-lhes as refeições. No refeitório um jovem pede-me que lhe ensine o sinal da cruz (a dele, pesada como a minha) e lhe escreva o Pai Nosso. Ensinei-o. Uma Irmã tranquiliza uma jovem de olhos azuis que tem lá fora vinte Irmãos… Nada tão alto como uma Cruz para contemplar o mundo.

 

A ementa é invejável: sopa, creme de camarão à setubalense, bacalhau com natas e arroz doce à fundanense, refeições confeccionadas na Casa. Deus nos livre dos vendedores de refeições plastificadas, sem cumprimento do caderno de encargos. Essas deviam ir para a mesa dos parlamentares. O diabo seja cego, surdo e mudo.

 

 A Irmã Hospitaleira Luiza, encarregada das Hortas Ecológicas, passa e pergunta-nos:” como estão as hortaliças?” A resposta generalizada: “muito boas, muito boas.”

 

O Celebrante e o Grupo Coral, todos com jeito para cantar, rezam: “Tu sofres, Senhor/Em todos os que caem, Tu caíste. /Tu me olhas nos olhos suplicantes/Do pobre abandonado e do triste”.

 

Na parte da tarde, todos foram convidados a partilhar o Bolo de Aniversário, num dos claustros floridos, parte central, rodeado de rosas e laranjeiras, onde figura um monumento em mármore de três mãos entrelaçadas: “Mãos Hospitaleiras, acolhem com gratidão o passado, com paixão o presente, com esperança o futuro.”

 

A minha prenda é a visita propositada de familiares da Guarda, que tiveram a gentileza de levar a minha esposa para o Fundão, do meu companheiro da Escola Apostólica do Cristo Rei em Gouveia, vindo das terras serranas, o João Gonçalves Batista e do Paulo Neves, da Cáritas Nacional em Lisboa, e ligado à Pastoral Prisional, com quem trabalhei alguns anos na Cáritas Diocesana da Guarda. Muitos telefonemas…mensagens…dos familiares e amigos de sempre, sempre presentes e atentos. A minha gratidão para todos.

 

Parabéns às Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus de Condeixa-a-Nova, pelo 137º Aniversário da sua Fundação, pelos cento e trinta e sete anos a pulsar HOSPITALIDADE.

 

Entrei no dia 1 de Junho (Dia Mundial da Criança) com uma frase de Eça de Queiroz na memória que me fez sorrir: “As crianças são os únicos seres divinos que a Humanidade conhece. Os outros anjos, os das asas, nunca aparecem.”

 

 

 

António Alves Fernandes

 

Aldeia de Joanes

 

Junho/ 2018

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