Divagações

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1. Heráclito foi um famoso filósofo grego. A sua morte foi, também, muito estranha. Já idoso, isolou-se nas montanhas comendo apenas plantas. Apesar da dieta vegan (ou por causa, dela), acabou por ficar doente, vindo a sofrer de hidropisia (acumulação de líquidos nas cavidades naturais do corpo humano). Para tal mal, procurou a cura junto de médicos e de curandeiros.  Um destes últimos aconselhou-o a enfiar-se numa banheira cheia de bosta de vaca quente, o que faria evaporar o excesso de líquidos retidos no seu corpo. Assim fez, mas adormeceu tão profundamente que, quando acordou, os escrementos tinham secado e ele não conseguiu sair da banheira. Os seus cães, não o reconhecendo por causa do cheiro da bosta, acabaram por o matar e comê-lo, pouco se importando que estivesse barrado com uma espécie de chocolate orgânico de vaca.

    2. Entretanto, ao mesmo tempo que as escolas passam quase administrativamente os alunos, o Parlamento chumba em quantidades impressionantes a audição de responsáveis políticos. Ora porque sim, ora porque não, ora porque coiso e tal, tudo é motivo para chumbar audições de personagens ligadas ao atual poder. A este ritmo, não há pedagogia e projetos Maia que resistam. E que tal uns planos de recuperação e uns apoios extraordinários para ver se diminuem os chumbos? Embora sem bosta, a coisa fede.

    3. Houve remodelação no Governo. Finalmente os Secretários de Estado que desautorizaram o seu Ministro foram postos na rua. Vamos ver para onde vão a seguir. Há que estar atento. Entretanto, entre os que entraram há apelidos que, se repetem e, por isso, vamos passar a ter à mesa do Conselho de Ministros, apelidos repetidos, ao contrário do que havia. sido prometido. A falta de memória dos portugueses é impressionante e preocupante. À semelhança de Heráclito, acreditam em curandeiros e em mergulhos em poções orgânicas fedorentos.

    4 .Celebrou-se, no final da semana passada, o 25 de novembro. Ou melhor, deveria ter sido celebrado. Perante a atual posição do PS (nem falo na restante esquerda), o seu fundador, o Dr. Mário Soares, deve dar voltas na campa. Ele que tanto lutou contra as tentativas revolucionárias que queriam impor uma nova ditadura, não compreenderia a atual posição do partido que fundou, que branqueia todo o período do PREC, esquecendo-se das prisões arbitrárias, dos mandados de busca e ordens de prisão assinados em branco por Otelo, das nacionalizações, do cerco ao Parlamento, das armas que estavam em boas mãos, etc., etc.. Haja memória que, pelos vistos, a falta de vergonha não escasseia. Há quem não perdoe aqueles que, ainda a tempo, nos tiraram do balde de bosta em que nos haviam enfiado, com a promessa de que, apesar do cheiro, o futuro era composto por amanhãs que cantavam, como na Albânia daqueles tempos.

    5. E no  dia 1 de dezembro. Celebremos a restauração da independência. Viva Portugal.

António Franco