A CIGARRA E A FORMIGA

(Adaptação aos dias de hoje da fábula de La Fontaine com o mesmo nome)

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Era uma vez, uma formiga que sob o sol escaldante de verão, construía a sua casa e acumulava suprimentos para o longo inverno que se aproximava.

A cigarra passou o verão a cantar e a dançar. De si para si comentava que a formiga era uma idiota. Não aproveitava a vida, esforçando-se sem descanso na sua labuta diária de transporte de alimentos para a toca.

O inverno, entretanto, chegou, rigoroso, gelado, chuvoso... Os alimentos escasseavam... A cigarra cheia de fome e a tremer de frio, armou uma esburacada tenda à entrada da casa da formiga e convocou toda a imprensa para que fosse dada notícia da tremenda injustiça que era a formiga estar confortavelmente instalada a deliciar-se arrogantemente com as melhores iguarias, enquanto ela, pobre cigarra, ia morrendo aos poucos, sem abrigo e sem comida!

As televisões mostraram em imagens dramáticas e sádicas os sinais de desnutrição da cigarra cambaleante, contrastando com as cores rosadas e saudáveis da formiga! Os espectadores, perplexos e chocados debitavam os mais díspares comentários. Enviados especiais de todo o mundo cobriram a notícia no próprio local, difundindo-a através das mais prestigiadas cadeias de TV.

O Governo mandou apurar os antecedentes e contornos da situação e descobriu que a cigarra tinha sido durante oito anos, autarca e depois deputada.

Fora acusada de crimes de corrupção mas o Tribunal acabou por deixar prescrever os alegados crimes.

Como, porém, tinha sido indiciada, durante todo o tempo que demorou o longo processo, não lhe tinha sido nunca atribuída qualquer pensão.

O primeiro ministro veio à RTP informar que já tinha mandado proceder à imediata correcção do erro.

A cigarra agora tem uma pensão vitalícia.

Quando vier o verão, tudo se repetirá: A formiga trabalha e a cigarra canta e dança...

Rui Felicio