Editorial 17-07-2022
Na ponta do(s) pé(s)
Numa segunda vida esperava poder virar o mundo de pernas para o ar. Ainda tinha cinco, pensava.
De mansinho continuava a delinear o traçado do seu caminho.
Dia após dia, contrariava o fio do tempo e decifrava tudo à sua volta.
Cansava todas as partes do seu corpo como nunca tinha cansado.
A exaustão aproximava-se com evidência num espreitar discreto como se o sono batesse à porta de um poeta.
Os poetas nunca dormem!
A cada dia que passava acabava por saltar, uma por uma, todas as barreiras onde, por vezes, tropeçava e outras vezes caía.
Apesar de tudo, a estrada era longa mas indiscutivelmente deliciosa para se andar delicadamente. Na ponta dos pés!
Pé ante pé, com todos os seus vagares, impunha-se ao destino que lhe traçava o desespero nas linhas do rosto.
Ainda não era tarde, à noite nunca dormia sem que sonhasse com o que seria o amanhã.
Uma surpresa seguida de outra e os dias sobrepunham-se como um conjunto de folhas no seu diário.
E escrevia, escrevia e escrevia sem cessar.
Parar nem sempre é morrer e na ponta do pé-descalço acudia sempre quem lhe sussurava a palavra mágica, onde a poesia alcançava as mais belas melodias d’amor e traição.
Nem sempre havia lógica naquilo que escrevia. Por vezes, pareciam reflexões demasiadamente filosóficas para se aproximarem da nossa realidade.
Abandonava-se nas suas ideias e deixava-se balear por entre os ventos cruzados da sua mente. Imaginava-se diferente, sentia-se diferente, era diferente.
Autoria de Sofia Geirinhas
A poetisa de pé-descalço
Não respeita o AO90
Cébazat, dia 17 de Julho de 2022
Imagem retirada da