Editorial 18-12-2021

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 E/I -  Migrações

As ideias tinham migrado de lembranças várias em busca de um lugar que lhe desse confiança e segurança em tempos que decorrem sem permissão.

Ficara curvado de espanto e, admirando aquele vaivém incessante de silhuetas estranhamente pálidas e afinadas pela rareza dos alimentos, pensara consigo mesmo. Tratara-se da chegada de novos indivíduos ainda casadoiros e nem pareciam preocupar-se com o seu devir.

Certo dia, ouvira falar de novo de outra chegada de gentes novas a seus olhos e, sem hesitar, procurara um lugar propício ao vulgar sentimento de estranheza e compaixão que o assolara. Questionara-se sobre as básicas necessidades e dos direitos que tinham abandonado aqueles seres. A vida surpreendera-o e naquele preciso momento que erguera os olhos ao céu as estrelas ainda soluçavam.

Quem se dedicara a tanta miséria sem lhe encontrar um fim? Um fim rápido, curto e bem definido que trouxera tudo o que fora de direito evidentemente clássico.

As lembranças aliaram-se aos sonhos de esperança e, a cada dia que passara, as migrações afastaram-se da realidade, na qual se desperdiçara tamanha humanidade de pele e carne pra canhão.

A alma migrara também e adormecera viajando para se revelar à chegada onde esperara reencontrar dignidade. A esta rudeza desprovida de divindades acrescentara-se um vento gélido que lhe fustigara o rosto perdido de viagens.

Cébazat, 19 de dezembro de 2021

Autoria de Sofia Geirinhas

A poetisa de pé-descalço

Imagem retirada da net