Editorial 28-08-2021

Podridão

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Lisboa não cheira a mar, cheira a lodo; fede ordinarice. Sem princípios, sem honra e sem glória, acoita a bandalhice, a desonestidade engajada e a trafulhice; é o chafurdo dos políticos desonestos. É um mau exemplo para o país, que contamina e chula. Aos que ainda acreditam num futuro com princípios, aqui deixo um poema de Rui Barbosa, que, num momento em que digladiava o desânimo, me veio parar às mãos:

 

SINTO VERGONHA DE MIM - Poesia de Rui Barbosa

"Sinto vergonha de mim

por ter sido educador de parte deste povo,

por ter batalhado sempre pela justiça,

por compactuar com a honestidade,

por primar pela verdade

e por ver este povo já chamado varonil

enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim

por ter feito parte de uma era

que lutou pela democracia,

pela liberdade de ser

e ter que entregar aos meus filhos,

simples e abominavelmente,

a derrota das virtudes pelos vícios,

a ausência da sensatez

no julgamento da verdade,

a negligência com a família,

célula-Mater da sociedade,

a demasiada preocupação

com o 'eu' feliz a qualquer custo,

buscando a tal 'felicidade'

em caminhos eivados de desrespeito

para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim

pela passividade em ouvir,

sem despejar meu verbo,

a tantas desculpas ditadas

pelo orgulho e vaidade,

a tanta falta de humildade

para reconhecer um erro cometido,

a tantos 'floreios' para justificar

actos criminosos,

a tanta relutância

em esquecer a antiga posição

de sempre 'contestar',

voltar atrás

e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim

pois faço parte de um povo que não reconheço,

enveredando por caminhos

que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,

da minha falta de garra,

das minhas desilusões

e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir

pois amo este meu chão,

vibro ao ouvir o meu Hino

e jamais usei a minha Bandeira

para enxugar o meu suor

ou enrolar o meu corpo

na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,

tenho tanta pena de ti,

povo deste mundo!

'De tanto ver triunfar as nulidades,

de tanto ver prosperar a desonra,

de tanto ver crescer a injustiça,

de tanto ver agigantarem-se os poderes

nas mãos dos maus,

o homem chega a desanimar da virtude,

A rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto".

 (Ruy Barbosa)

Está na hora de arregaçar as mangas e lutar: contra os ladrões, traidores e maus princípios. Sem tibiezas, dar os nomes aos bois.

….

Vão tempos em que publiquei neste jornal o texto acima. Li-o e reli-o. Hoje, nada a retirar; todavia, algo a acrescentar: a corrupção galopa e os intervenientes gozam de boa saúde fora das grades da prisão mais que devida.

Por cá por Coimbra, ainda que menos evidentes, há casos que se arrastam. Que aconteceu aos empresários que faliram e não concluíram obras consignadas?

Pobre Coimbra que tendo sido, embora não a maior, a mais importante cidade do país, hoje definha a olhos vistos, porca e suja, desmazelada, entregue aos “bichos”.

E será tão fácil dar-lhe a volta com edis que amem a cidade e tenham vontade de deixar obra para a posteridade.

(Imagem retirada da net)

ZEQUE