Editorial 25-11-2017

 

Não estranho que os meios de comunicação social tenham preferido falar do 25/ 6 de 1967 a falar do 25 de novembro de 1975. Não, não estranho: cada um tem os seus interesses, e, quando são corporativos, mais arreganho se lhe dá.

Em 1967, faz amanhã cinquenta anos, cinco horas de chuvas torrenciais mergulharam a Grande Lisboa na maior inundação que a região alguma vez conheceu: provocando mais de 700 mortos e cerca de 1100 desalojados em Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer. A enxurrada matou famílias inteiras, arrastou carros, árvores e animais e destruiu pontes, estradas e casas.

Lisboa ficou irreconhecível. O regime salazarista tentou minimizar os impactos das chuvas, mas as suas repercussões atravessaram fronteiras e desencadearam um movimento de solidariedade internacional. Chegaram donativos dos governos britânico e italiano, do Principado do Mónaco e até o chefe do Estado francês, o general De Gaulle, contribuiu com uma "dádiva pessoal" de 30 mil francos (900 euros, no câmbio da época). O apoio em meios sanitários veio de França, Suíça e sobretudo de Espanha, que ofereceu mil doses de vacina contra a febre tifoide. Setecentos mortos foi o balanço das vítimas mortais feito pelos jornalistas; para o governo da época, não terão chegado a quinhentos.

Em novembro de 1975, a 25, dois comandos assassinados pelas costas por um ou mais atiradores furtivos, arregimentados a gente que ora opera na geringonça, desencadearam um movimento que acabou com a esquerda traiçoeira que tinha tomado conta do país, que se governava, escravizando o povo que não era da cor. Jaime repôs a democracia prometida em Abril de setenta e quatro, que continua a badalar-se sem que se reponha a verdade: os militares traíram Spínola e Spínola traiu Marcelo Caetano. Daí o desastre social que aconteceu até ao 25 de novembro do ano seguinte, um povo adormecido, escravizado, arreatado.

Duro de entender é perceber-se que Marcelo, o de Sousa - Ti Celito para os naturais de Luanda com quem “selfiessizou” – só venha a saber pelos jornais certas tomadas de posição do governo, não por acaso de interesse nacional. O caso do Infarmed é um bom exemplo. Ainda assim, mais inentendível é falar-se por aí em surdina, ou por meias palavras, que Portugal se prepara para aderir à cooperação reforçada permanente na defesa e segurança na União Europeia, o que significa, no mínimo, para além de todas as salvaguardas que venham a ser negociadas, que a defesa do país, ainda nosso, pode ficar nas mãos de terceiros. Uma anormalidade, penso, em vias de concretizar-se.

Em Coimbra, continua a estudar-se a localização do aeródromo (inter)nacional e à espera que as águas levem as areias ainda retidas no leito do rio, sem jeito para salta-muros.

Hoje, logo de manhãzinha, Cindazunda lançou o grito de “viva o 25 de novembro”. Machado não gostou.

ZEQUE