Editorial 23-06-2018

 

Digam Que Sim

Eu sei que sou míope, e por isso uso óculos. Para ver melhor, obviamente. Todavia, dou comigo a cismar por que não vejo o que outros vêem  ou vice-versa..

Há caminhos de ver e não ver muitas vezes percorridos, ou lidos, de modo diferente: cada cabeça, cada sentença.

O autódromo internacional está em fase viva de arranque: Machado e a sua equipa afanam-se em fazer avançar o projecto, pelo foi à Associação do Departamento de Engenharia Civil da UC para calcular os custos de uma eventual ampliação da pista de Cernache. Não foi do mesmo modo, mas há dezenas de anos que se espera pelo metro de superfície de Coimbra à Lousã, sem que se espelhe qualquer resultado. Claro que, prevendo qualquer eventual falhanço – tão costumeiros nas suas hostes – Machado antevê já localização alternativa em Antanhol, não se sabe bem onde.

O apelo foi feito à União: Pensei no clube de futebol extinto, ou quase, e, ao que parece, em fase de recuperação. O clube e Cidade mereciam-no; e os promotores também Todavia, uma cidade, que não consegue “sustentar” uma Académica, conseguirá “escorar”, ainda assim, o União de Coimbra renovado?

Este problema desaparece-me das cogitações quando percebo que, afinal, a união a que se apela, e a que se refere, é uma união em torno classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia a Património da Humanidade, um apelo à união e responsabilização de todos os que lutaram, directa e indirectamente, para que Coimbra fosse “reconhecida” pela UNESCO

Ganhou a cidade com o acontecimento? Obviamente que sim. E mais teria ganho se o desmazelo não fosse um conceito sempre presente nas actividades e decisões dos actuais edis.

É certo que Machado, em jeito de resumo ao acontecido desde então, não deixa de referir um vasto número de projectos concretizados que elencou, que a reabilitação urbana avançou com passos que nunca tinham sido dados, nem tão cadenciados, nem tão largos, e garantiu que a cidade está mais competitiva nacional e internacionalmente. E eu que gosto de passos largos mas não maiores que a perna, não perguntei ao vento mas às gentes da alta e da baixa, do comércio e da indústria, das artes e dos que não fazem nada onde param tais “acontecidos”. E as gentes pasmam de tanta lábia e sorriem tristes da decrepitude urbanística da cidade, do desleixo envergonhado das ruas porcas, das lojas que fecham e das indústrias que passam ao lado pela autoestada a caminho de localidades acolhedoras.

Todavia, Machado tem razão. Cindazunda, adquirida a um amigo, ou Lindabunda ou lá como se chama, epitoma todas as suas realizações. Para quê mais?

“Oculos habent non vident”. Ou melhor, há certos génios que conseguem ver para além do visível, escandalizando-se quando alguém grita “o rei vai nu”.

ZEQUE