Editorial 18-07-2020
As trovas do tempo sem Trovador
Nas pálidas noites de Verão canta o Trovador em vésperas de dias que se vão encurtando.
As vozes estendidas em parcas cordas de guitarra aclamam as almas de quem não nos encanta, senão com a sua trova.
Os seus dedos fundem-se nos corpos fluídos que passam de um lado para o outro, como que se vagueassem naquelas turvas águas da vida.
Aconchegam as vozes e os gaguejos devolvem o sentido aos sons que nem todos ouvem.
É preciso prestar muita atenção quando começamos uma viagem.
Os ventos são mudos e a natureza adormece sem querer, como se as coisas tivessem alma.
Os sentidos acordam as diferentes silhuetas e absorvem cada unidade singela e única da existência. Somos nós que criamos todo o vazio que sentimos quando saímos de nós-mesmos.
Os versos entrelaçam-se numa dança ritmada e casta paralela aos amantes da poesia.
Para que serve ouvir se não se compreende a vasta pluralidade das palavras, enquanto outros se sentem poetas.
Sem verso nem prosa podemos trovar
sem alma nem glosa podemos versar
Sejamos poetas, humildes trovadores
sem música trovando senhoras, senhores!
Os poetas desfilam entre trovas e emprestam a melodia aos trovadores de outrora.
Naquela misteriosa ambivalência de arte onde coabitam aqueles que se reconhecem poderosamente perenes...
Sofia Geirinhas
A poetisa de pé-descalço
(A autora não respeita o AO90)