Editorial 16-02-2019

 Os donos disto tudo

Nos tempos da monarquia dual em que os reis de Espanha eram os mesmo de Portugal versejava-se ao ritmo de um “Portugal é lauta boda onde come a Espanha toda”.

Veio-me isto à cabeça não sei bem porquê, mas creio que por pensar que o [ainda] nosso país está a ser sugado por uma classe política de “famílias” residentes em Lisboa. Ou, talvez ainda – e tudo o que vou escrever é em sentido figurado e não real -, porque me lembrei que, nos velhos tempos, bons para uns e maus para outros, se costumava dizer  Que Salazar era uma pessoa inteligente rodeada de burros, enquanto Franco era um burro rodeado de inteligentes.

Assim ou assado, sendo ou não sendo a análise correcta, ponho-me a congeminar naquilo em que o cantinho à beira-mar plantado se tem vindo a transformar: de um país real com províncias no continente e ultramar, estendendo-se até Macau e Goa, a um país irreal, misérrimo, restringido ao continente e às ilhas, um país actualmente entregue a gente amoral que só pensa nela.

A sério ou a brincar, analise-se a geringonça de Costa, rodeado de amigalhaços, e acolitado por Catarina e Jerónimo, para não falar do dono do PAN.

Ponho-me a pensar se Costa é burro ou inteligente, mas quanto mais o ouça falar menos entendo: fale ele em discurso preparado ou a responder a questões levantadas por jornalistas, mutos deles a cheirarem a engajamento, o certo é que repete sempre as mesmas coisas, ainda por cima ditas pelas mesmas palavras ainda que não pelas mesmas sequências.

Esperto é ele. Lá isso é. De tal modo que não afronta as “famílias” de Cabrita e César, donas de condados e ducados de fartos proveitos, que lhes servem de esteio no governo em que a incompetência reina. Pelo contrário, servindo-se de uma ministra de experiência medíocre, joga xadrez no tabuleiro da saúde, afrontando, ou confrontando, enfermeiros e médicos; e, fingindo-se amigo do perigo, confronta as umidades hospitalares privadas com as questões de uma ADSE depauperada por, pensa-se, má gestão.

Costa, em atitudes de pouco senso, pelo menos aparente, atira poeira para os olhos dos portugueses oferecendo-lhes obras e mais obras de grande fôlego, tão grande que ainda o levam a engasgar-se ou a electrocutar-se no ramal da Lousã ou no aeroródromo do Montijo a que ele chama aeroporto; e a estampar-se na auto-estrada de Coimbra para Viseu, naqueles cinco palmos de construção contratada.

Costa brinca com coisas sérias. Nunca se viveu tão pobremente como agora. Todavia, ri. E goza. Brinca com a saúde dos portugueses, que comem e calam. Talvez ganhe a luta contra os enfermeiros, talvez; mas não a ganhará contra os hospitais privados. Acabar com a ADSE seria o seu suicídio político. E Costa, esperto, não cai dessa abaixo; e já combinou tudo: os hospitais aguentam até fins de abril, ele manda satisfazer as exigências, e não pedidos, das unidades contestantes, e por arrasto as demais, e parte sereno para as eleições europeias.

Por Coimbra? Nem avenida central, nem metrobus, nem aeroporto, nem largo de Celas. Falhou tudo. Machado é o máximo.

ZEQUE