Editorial 11-08-2018

Arde tudo, menos o que devia

Uma cidadã holandesa, li, proprietária de um alojamento local na serra de Monchique, diz que o país onde ora vive começa a ser conhecido como o “País dos fogos”.

Não sei como é conhecida no mundo do turismo o país em que a ilustre cidadã nasceu, ou, pelo menos, cuja nacionalidade adoptou, mas numa altura em que se aposta cada vez mais no turismo temático, da apanha do mexilhão à plantação de canábis, o “país dos fogos” pode ser uma excelente atracção para aqueles que se deliciavam a ver as “sereias” despidas e oferecidas nas montras de algumas cidades do país das tulipas.

Um sucesso, como disse, redondo que nem o ovo de Colombo, o primeiro-ministro do país dos fogos, ou, mais enfatuado, dos incêndios.

Se não fosse triste o que aconteceu, seria anedótico, diria Lapalisse ou mesmo até alguns comentadores das nossas t-vês sempre prontos a bajular quem está no governo. E isto - vejam lá o azar do condutor da geringonça – porque em Junho, que ainda não “se“ passou há muito tempo mesmo em termos de dias, Costa visitou Monchique para, com aquele ar sacanóide, perdão, bem disposto, exibir, e louvar, laureando-se, o bom exemplo da política de prevenção de contra incêndios: “O que estamos a fazer”, disse o dito cujo, “é proteger um território comum a todos”.

Ora , mais ou menos um mês depois da propagandística caravana ter passado por Monchique, onde há uma excelente água para tratamento das vias urinárias, tragicamente, a zona transformou-se num mar de cinzas, sem peixe, que a peixeirada da “grande mobilização” anunciada pelo amigo Costa e conselheiros foi incapaz de travar, um Costa desaparecido, enfiado não se sabe bem onde, salvo no dia em que apareceu, num deleite de Nero, a ver as chamas quase dominadas.

O grande sucesso de Costa – dramático para todos os portugueses de bom senso – deixou um rasto de 39 feridos, 50 casas destruídas, 23/ 7 milhares de hectares ardidos e umas centenas de pessoas deslocadas.

Em vez de se demitir e demitir o séquito que o acompanha e aconselha, Costa continua a gozar “com a excepção que confirma a regra do sucesso da operação”., esquecendo que o país, praticamente, já pouco tem para arder.

Por outro lado, em dia tórrido, o de hoje, Marcelo, vestido à presidente e à Ti Celito, lá vai dando uma no cravo e outra na ferradura, querendo justificar o injustificável, prometendo o que sabe não poder prometer, ante o olhar de dor e de tristeza dos que perderam todos os seus bens e fontes de sustento.

Portugal o país dos fogos. Deste, de Monchique, também não podemos culpar o Machado.

 

ZEQUE