Editorial 27-01-2018

Aberrações

Não sei se deva começar por esta Coimbra adormecida, se pela desenfastiada e sorvedora Lisboa, se pelo resto, ou melhor, do que ainda resta deste país entregue à marabunta, cada vez mais litoralizado e socialmente mais diferenciado. Como no meio é que está a virtude, dizem uns, ou a desvirtude no dizer de gente de linguagem mais pudica, inadvertidamente despreceituosa.  E no meio, não do país mas da frase, está Lisboa, oficiosamente capital deste país desmemoriado, à beira-mar estendido em gozo de imerecidas férias.

Lisboa, a rica, a sumptuosa, em que o dinheiro cai dos céus. da terra e das água com velocidade e quantidade superiores às da chuva e do vento em dia de temporal, terra em que o dinheiro se esbanja em iniquidades lamentáveis, e a pobreza e o desleixo já imperam.

Lisboa, Lisboa, capital do mau exemplo em que os gabinetes de um ministro das finanças, altamente cotado, vê o nome “manchado” ainda que se saiba que tudo tem efeitos propagandísticos do seu “ar” e “ser” impoluto. Lisboa dos falsos moralistas – os dos donos da nova moralidade obscena – dos interesses das TVs em que a justiça proíbe o programa ”Supernnany” – talvez bem, porque talvez imoral – mas deixa que crianças tenham “sofrimentos” semelhantes em telenovelas em que são actoras, ou programas de pornografia ocultada sob mantos diáfanos; Lisboa em que um presidente da camara, para satisfação de um ego hipertudo, ainda maior que o de Sócrates, vai gastar quase vinte mil euros para lhe tirarem umas fotografias nuns eventos à beira de acontecerem; uma Lisboa em que o estado – ainda não de sítio – arrecada 115 milhões de euros por dia em impostos sugados, mas que não paga a hospitais, deixa os monumentos ao abando e escolas a deteriorem-se, chegando ao ponto de ratos obrigarem a fechar uma escola no Restelo.

No resto do país, principalmente nas zonas das estradas da morte e dos incêndios incontrolados, que o “Tive” e o Capoilas sugeriram, as populações desesperam por auxílio. mesmo aquele auxílio conseguido junto de particulares e não se sabe onde foi cair. E Costa ri a gozar com o pagode; Capoilas não ri, mas aparvalha-se sem sentido.

Em Coimbra, as lojas da Baixa encerram-se umas a seguir às outra, irremediavelmente, sem soluções à vista. Machado e a sua equipa, ou Machado sozinho que é o rosto da câmara, entretém-se a brincar com aviõezinhos de papel num imaginário aeroporto internacional de cartolina, um aeroporto que, possivelmente, vai acontecer no distrito de Leiria (Monte Real) ou numa Viseu rejuvenescida, pujante, sob a batuta de um Almeida Henriques que sabe o que quer para a sua cidade.

Oeiras vai ter a filial da Google em Portugal, com um “encaixe” de quinhentos engenheiros; Porto está a namorar a “Amazon”, que criará um sem número de empregos. E Coimbra? Bem, se mais não for possível e porque a autoestrada para Viseu “já foi” , tente-se, ao menos, redirecionar o INFARMED!

Só que ninguém acredita nisso; mais a mais com Machado entretido com o problema da avenida central.  

Parece que o desassoreamento do mondego vai bem e se recomenda. Penso, todavia, que é só propaganda para desviar a atenção dos outros berbicachos,

A ver vamos, como dizia o cego para o que tinha vontade de ver.

ZEQUE