Praia dos Tesos

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Por iniciativa da Comissão de Turismo foi construída em 1935 a primeira Praia Fluvial de Coimbra. Até 1945, funcionou consecutivamente em frente ao Parque Dr. Manuel Braga, estendendo as diversas estruturas até ao Choupalinho (atual Praça da Canção). Com uma diversificada oferta, lazer, provas de natação, bares e música, dificilmente a população da cidade dispensava este aprazível recreio da época calmosa e quente.

Acabada esta iniciativa, e depois de despertar os corpos para o contacto com a água, quando chegava o estio, os mais abonados passaram a ir mergulhar nas águas salgadas da Figueira da Foz. Uma cidade que era quase só procurada para curar maleitas, e que desde a década de 1890, se converteu numa concorrida estância balnear, fruto sobretudo da melhoria das acessibilidades por via ferroviária, não esquecendo um lema da cidade que ainda hoje se confirma: “Receber Bem!”.

Já ao tempo da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), acolhera populações em fuga do conflito e com a ocupação nazi de países da Europa setentrional e ocidental, que provocou a fuga massiva de populações, foi escolhida como "zona de residência fixa”, para permanência no país desses contingentes humanos, enquanto aguardavam por embarque para os restantes continentes, em particular para os Estados Unidos da América. Os reflexos no aumento do afluxo de veraneantes, nacionais e estrangeiros principalmente espanhóis foi exponencial.

Os Conimbricenses menos abastados contavam com as sombras das ramagens dos salgueiros caídas das margens do Mondego, e uma trança de água morta como que uma cobra a espreguiçar-se na areia. Os mais afoitos que gostavam de águas mais profundas, perdiam-se no Choupal e na Lapa dos Esteios, mas sem estruturas de espécie alguma, era na Portela do Mondego que o rio se transformava em praia. Aos fins de semana os autocarros dos SMC levavam centenas de veraneantes, acompanhados dos faustosos farnéis, de sardinha e febras para grelhar e das boias para os miúdos (normalmente câmaras de ar de automóvel). Montavam-se canadianas, abriam-se chapéus ou faziam-se barracas com ramagens de canas, enquanto as mães lavavam nas pedras do rio, arrobas de roupa, os maridos e filhos deliravam com mergulhos da “Bola” ou do patamar do único pilar da Ponte que, no verão, tinha água à sua volta.

Era assim a Praia dos Tesos!

Carlos Ferrão