História de Coimbra

Sisnando Davides, o Governador

que os pseudo-intelectuais desta cidade esqueceram...

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Não conhecemos as razões que terão levado Sisnando Davides a trocar Sevilha pela corte de Fernando Magno, em Leão, mas não deverão ser estranhas ao seu orgulho e à sua fortíssima personalidade. Quando em 1063 ou 1064 o rei decide reconquistar a cidade de Coimbra (fora conquistada em 878 e perdida em 987, na famosa expedição de Almançor), uma tradição coeva diz-nos que é Sisnando Davides quem está por detrás do projecto, convencendo o rei a realizá-lo. Verdade ou não, o que é certo é que o rei participa directamente na conquista da cidade, e com ele estão os seus filhos, a sua corte e muitos eclesiásticos, o que prova a importância que é dada então à cidade do Mondego.

 

A cidade é conquistada depois de um longo cerco de seis meses, e a Sisnando Davides, que terá tido um papel de grande destaque na conquista, é entregue não somente a sua administração, mas a administração de todo o território entre o Douro e o Mondego, o antigo condado de Coimbra, agora restaurado. Sisnando Davides, o judeu, torna-se um dos homens mais poderosos do reino de Fernando Magno.

 

A tradição indica-nos que, do ponto de vista religioso, Sisnando Davides é um moçárabe. E é bem possível que este homem, nascido de pais judeus e tendo recebido uma educação judaica, se tenha definido toda a sua vida como cristão. Experiente, sagaz, ele conhece bem a natureza humana. Homem de poder, amigo do poder, não nos custa admitir que publicamente se tenha convertido para ganhar a confiança de Fernando Magno e para manter a lealdade dos moçárabes de Coimbra (seria deste modo o primeiro cripto-judeu português). A opção mostrou-se correcta, pois governaria como um rei todo o centro de Portugal, até ao último dos seus dias, em 25 de Agosto de 1091.

 

As suas excelentes qualidades de governante farão com que o rei Afonso VI de Leão e Castela o nomeiem primeiro governador de Toledo, depois da conquista desta cidade em 1085, para implementar a sua política de tolerância entre as diversas comunidades que viviam na cidade (moçárabes, muçulmanos e judeus). Mas Sisnando era um homem do sul, e a sua personalidade fortíssima chocou contra o arcebispo Bernardo de Sedirac que, do ponto de vista religioso, queria impor a todos os Cristãos o rito romano em substituição do moçárabe, tal como ficara definido no Concílio de Burgos. Seis meses depois o «rei» Sisnando Davides estava de regresso a Coimbra.

 

Governando como um rei até ao último dos seus dias, e não tendo um filho para lhe suceder, Sisnando tentou impor no “trono condal” o seu genro. Mas a monarquia leonesa desenvolvia uma política unificadora e punha fim às antigas hereditariedades condais. O antigo condado/ducado de Portucale tinha desaparecido em 1071. O condado de Coimbra desaparecia em 1091. Da junção dos dois, da união do condado do norte com o do sul iria nascer o novo Condado Portucalense, com capital em Coimbra. Mas essas já são velhas histórias da nossa História…

Imagem retirada da net

António Olayo