Faleceu o Luís “Catarino”.

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Mais velho nove anos do que eu, pessoa sensível, amigo do seu amigo, figura popular na Baixa de Coimbra, tinha sido temporariamente meu catequista nos tempos em que eu ainda ia à missa. Ficámos amigos e às vezes juntava-se a nós, grupo de adolescentes da Praça Velha, nas conversas do fim de tarde.

Vou contar aqui um episódio que o levaria a sorrir, como mais do que uma vez aconteceu quando nos encontrávamos na relojoaria ou pelas ruas da Baixa.

Fomos ao Cinema Sousa Bastos ver um filme de terror (não me lembro do título) numa sessão noturna a meio da semana. Estávamos meia dúzia de gatos pingados na plateia.

Um pouco afastado de nós, o Luís levou toda a primeira parte do filme de olhos fechados, a torcer-se todo na cadeira, incapaz de ver as cenas de suspense e horror que o impressionavam vivamente.

Ao intervalo, perguntei-lhe porque não se ia embora para pôr termo àquela autoflagelação. «Porra, Toni», respondeu-me, «paguei sete escudos e cinquenta centavos pelo bilhete e ia agora sair ao intervalo?!»

E continuou até ao fim, já encostado a nós, a não ver o filme. Quando abria os olhos apanhava um susto, cada vez mais forte, porque a morte rondava cada vez mais de perto uma mulher em cadeira de rodas, que era a personagem principal do filme.

Meu amigo Luís, nesses anos descontraídos da década de 60, não nos passava sequer pela cabeça que o filme da vida de cada um de nós, termina sempre, inapelavelmente, com uma cena de puro terror.

Só por isso levamos os olhos fechados

Pinto dos Santos Toni