Cadeiras da Matobra, Cavalo Azul e Raríssimas

 

Não me saía das recordações a exposição das cadeiras da empresa Matobra de apoio à AFSD - Cavalo Azul -, de que resultou a importância de 15.000 euros, para abater na dívida resultante da construção do edifício em Marco dos Pereiros, onde habitam 12 utentes de Lar Residencial e 28 de CAO.
Gesto generoso de apoio a uma população com deficiência, carente de uma instituição que a abrigue e acompanhe nesta travessia da vida, jovens filhos de pais que já se foram, ou de outros pais já bem marcados pela idade, jovens que merecem a consideração e o respeito de todos, porque é um dever de todos respeitar e ajudar os que precisam.
Andava eu nestas recordações quando me chega a reportagem da Raríssimas.
Reportagem com informação de uma instituição bem conhecida, também esta dedicada à deficiência, às doenças raras.
Reportagem com informação de abundante riqueza, onde a dirigente recebe elevado ordenado, ajudas de custo e de representação, carro de luxo, despesas com roupas para solenidades, tudo pago pela instituição, que nasceu e que tem por missão e dever prestar apoio, acolher e dar abrigo a crianças e a jovens com deficiência, com doenças raras.
Nesse desvio dos seus fins e do que a sociedade destas instituições exige, porque os apoios e os subsídios chegam do Estado, e à Raríssimas chegariam com facilidade e em abundância, porque para isso a dirigente se cercou de gente importante, onde andam políticos, também alguns com ordenados da instituição a condizer com a importância da pessoa.
São situações destas que desacreditam e deixam desconfianças.
Instituições tão diferentes. Uma carente de ajudas para se aguentar na sua missão de dar abrigo e alimentação a um grupo de jovens sem capacidade para uma vida autónoma. Instituição onde não há e nunca houve ordenados para dirigentes, todos em regime de voluntariado sem nada receberem em troca, persistentes e teimosos que se meteram a uma obra sempre acompanhados pelas preocupações e pelos trabalhos os seguia de que o edifício que crescia ficasse por umas paredes levantadas ao alto sem utilidade, ali na paisagem, um mono abandonado bem à vista de todos, como monumento inacabado para chamar à humilhação, como para castigar o atrevimento e a ousadia desse grupo de teimosos que sonhou, como castigo à persistência de uns aventureiros que se terão metido a uma obra para a qual não tinham engenho, nem força, nem meios para a levar ao fim. 
Mas a obra chegou ao fim. Os seus dirigentes continuam firmes na sua missão de dar abrigo, agasalho e alimentação a jovens carentes de afecto e de família, uns já sem pais, outros porque a família precisa de lhes dar futuro seguro.
Estamos entre duas situações bem diferentes. A vida é feita de diferenças. Nas instituições também há diferenças. 
Só me arrepia que em tão pouco tempo umas se deixem degradar, esquecendo a sua missão, porque alguém se quis eternizar nas suas funções de dirigente com ordenado.

Manuel Miranda