Barbearia Bazílio

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Era um dos estabelecimentos âncora no “canal”. O seu proprietário, Bazílio Diniz era uma espécie de adamastor em ponto pequeno, que não metia medo a ninguém, antes pelo contrário. Afável, era estimado pela vasta clientela de que faziam parte as várias elites sociais. Além disso era discreto.

Certo dia, um vendedor de certos produtos, um daqueles lisboetas que acham graça em contar umas certas pilhérias e em pregar partidas aos incautos, numa passagem pelo estabelecimento, depois de boa conversa, apimentada nuns pontos e “aldrabada” noutros, ao ver um dos barbeiros a limpar o soalho da barbearia, pergunta:

- Senhor Basílio, que é que o sr. Faz a estes cabelos?

- Então, que hei-de fazer?!?!--- Vão para o lixo.

- Ó amigo, não faça isso. Em Lisboa compram estes cabelos para fazerem perucas…

O senhor Bazílio não disse nada, mas começou a pensar no assunto. A conversa continuou um tanto ou quanto distraída, até que, pensando em ganhar mais uns patacos, o senhor Bazílio, interrompendo a conversa, questiona:

- Isso é verdade? Lá em Lisboa compram estes cabelos?

- Sim, é verdade, retorqui o vendedor Mais – aumentando a intimidade -, se o meu caro Bazílio quiser, eu próprio lhe arranjarei comprador.

Bazílio Diniz, sorriu e pespegou-lhe com uma “bacalhoada” daquelas de estalarem os ossos da mão.

Acertaram-se as agulhas e o vendedor ficou de arranjar comprador ou compradores.

E mestre Basílio lá começou q guardar os cabelos que os seus funcionários “roubavam” aos clientes.

Com alguma regularidade, o vendedor ia passando pela barbearia, ia perguntando “como ia o negócio”, e o senhor Bazílio que via os sacos cheios a amontoarem-se começava a não gostar do assunto.

Um dia, já com mais de uma dúzia de sacos cheios, e farto de ver que o vendedor não atava nem desatava, quando ele entro no estabelecimento, disse-lhe com ar risonho contrastado com voz de poucos amigos: 

- Amigo, já não tenho mais espaço para colocar os sacos com os cabelos. Hoje, tm de levar os cabelos lá para os seus amigos de Lisboa.

Ante o ar que não indiciava nada de bom, diz o vendedor:

- Vamos lá, então, ver o material.

E foram!

Frente à sacaria, com ar “inteligente”, diz o vendedor:

- Vamos lá então ver a mercadoria.

Abre um saco, faz um oh de espanto, e pergunta:

- Senhor Bazílio, os outros também têm cabelo deste tamanho?

- Claro, responde o senhor Bazílio.

- Ah, responde o vendedor, mas este tamanho não presta para nada. As pontas de cabelo têm de ter pelo menos doze centímetros… Não, não o posso levar!...

Na barbearia ouviram-se vários barulhos, ainda que não se soubesse o que era. Sabe-se, apenas, que os dois saíram afogueados da arrecadação, com o vendedor de passo apressado à frente do senhor Basílio a acariciar uma das pernas.

A história “morreu” passado uns tempos porque o vendedor nunca mais apareceu em Coimbra. Pelo menos que se saiba!...

 

E ficou para a história!

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