AS ESCULTURAS DO TIO DO SENHOR DAS BARBAS:

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 I - A "MARIA DA FONTE" DE COSTA MOTTA (TIO) VISTA POR AQUILINO RIBEIRO

 

O TIO DO SENHOR DAS BARBAS

... tinha o mesmo nome que o sobrinho: António Augusto da Costa Motta. Ambos naturais de Coimbra e ambos escultores, combinaram, para evitar confusões, que o tio passaria a acrescentar Tio, entre parênteses, ao apelido, e passou a assinar Costa Motta (Tio), e que o sobrinho passaria a acrescentar Sobrinho, entre parênteses, ao apelido, e passou a assinar Costa Motta (Sobrinho).

 

Quando Rui Pato publicou esta histórica fotografia, da autoria de seu pai, Rocha Pato, solicitando achegas para a identificação das personalidades fotografadas, cheguei a irritar-me com uns comentários, no mínimo apressados, de duas pessoas que eu me tinha habituado a respeitar. Num desses comentários, a autora escrevera, confundindo o Reitor da Universidade, Doutor Maximino Correia, com o Moreira Baptista, do Secretariado de Propaganda Nacional: "Parecem-me um grupo de fachos do regime, desde o Moreira Baptista às senhorinhas da Mocidade, com os altos dignitários da Igreja, numa qualquer cerimónia de inauguração...”. Tendo vários comentários identificado “o senhor das barbas” como Jaime Cortesão, um ilustre homem de cultura de Coimbra interveio: “Não é o Jaime Cortesão, que, aliás, não escolheria aquelas criaturas para companhia!”. Entre essas "criaturas" estão Cabral Antunes, Maximino Correia, D. Ernesto Sena de Oliveira, Reynaldo dos Santos (fundador, com Jaime Cortesão, da revista "Homens Livres"), o Doutor Padre Avelino de Jesus da Costa, professor da Faculdade de Letras, e seguramente com todos eles Jaime Cortesão conviveria.

 

Esquecido esse incidente, é tempo de falar de um grande artista conimbricense que Coimbra ignora: António Augusto da Costa Motta (Tio), nascido em Coimbra, em S. Bartolomeu, em 12/2/1862, filho de um carpinteiro. A formação artística fê-la na Associação dos Artistas de Coimbra e na Escola Livre das Artes de Desenho, de Mestre António Augusto Gonçalves. Apoiado pelo Conde do Ameal, Dr. João Aires de Campos, veio para Lisboa cursar a Academia de Belas Artes.

 

É autor, apenas ..., dos monumentos a Afonso de Albuquerque (na Praça do Império), a Sousa Martins (na Praça de Santana), a Eduardo Coelho (com o "Ardina", no miradouro de S. Pedro de Alcântara), a Pinheiro Chagas (com a "Morgadinha de Valflor", na Avenida da Liberdade), a António Ribeiro Chiado (no Chiado), a Joaquim António de Aguiar (na Portagem, em Coimbra), além de muitas obras de arte pública (com destaque para o "Cavador", no Jardim da Estrela) e bustos (D. Carlos, Magalhães Lima) e as estátuas jacentes de Camões e de Vasco da Gama (nos Jerónimos), etc.

 

Entre elas, a estátua da Maria da Fonte, em Campo de Ourique, pretexto para evocar a reportagem da sua inauguração ("A Illustração Portuguesa", II Série, n.º 762. 27/9/19230, p. 16). e a opinião de Aquilino Ribeiro sobre o projeto da obra ("Exposição Nacional de Belas Artes", em "Atlântida", Ano II, n.º 20, 15/6/1917, pp. 698-700):

 

"Costa Mota. tio, expõe uma «Pastorinha». tam preciosa como a preciosa «Maria da Fonte». Artista delicado, maneirinho, amoroso das belas ordenanças, os seus mármores parecem talhados para os «Trianons» mortos, que não para esta lobêda do tempo do carvão e do aço. Os assuntos à Gessner quadram-lhe à maravilha; mas fuja o ilustre estatuário de interpretar Marias da Fonte que a revolucionária do Minho, no dizer de Camilo, era uma labrêga de pata cavalar, manápula dura, os seios a pojar do colete de atacadores, moles de mil mãos de soldados. Àlem disso bêbada, desnalgada, faceira. Um escolho para Gerôme, e Costa Motta tem muito dêste famoso esculptor." 

Mário Torres