ABRIL DE 69

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Coimbra 17 de Abril de 1969! A Crise Académica! Antes de falar propriamente de 1969 e da contestação estudantil na década de 1960, convém ir um pouco atrás no tempo. A Dezembro de 1956, quando é publicado um famoso decreto 40900, pois é aqui que tudo começa. Um decreto governamental destinado a controlar as associações de estudantes. Contudo, Coimbra reage e até membros do Estado Novo são contra esse decreto que impunha as comissões Administrativas! Um pouco antes da crise académica de 1962 é publicado no jornal da AAC "Via Latina" um texto que desperta consciências: "Carta a uma jovem Portuguesa". Depois, temos a crise académica, outra minicrise em 1965 e comissões administrativas até 1969. Em 1969 a Associação Académica de Coimbra é ganha por uma lista afecta ao Conselho de Repúblicas, onde residia a contestação. Liderada por Alberto Martins (República dos Pyn guyns) e outros contestatários como Celso Cruzeiro (República Palácio da Loucura). 17 de Abril de 1969. É inaugurado o novo edifício das Matemáticas da UC. Vem o Presidente da República, Ministros e outros. A AAC quer falar no acto inaugural, mas vê a pretensão negada. No acto inaugural Alberto Martins levanta-se e, em nome dos estudantes de Coimbra ousa pedir a palavra ao Presidente da República, facto que lhe é negado dizendo o mesmo que agora vai falar o Ministro das Obras Públicas e logo a seguir a comitiva sai da sala apupada, sendo a mesma inaugurada pelos estudantes. Nessa mesma noite, Alberto Martins é detido pela PIDE (Polícia Política) e há confrontos entre a polícia e os estudantes. É decretado o luto académico e há greve aos exames. À brutalidade da polícia os estudantes respondem com a operação flor. Há professores solidários com os estudantes, destaco Paulo Quintela e Orlando de Carvalho, entre outros. Mas há algo mais que diferencia Coimbra: A Académica que, nesse ano, vai à final da Taça de Portugal, onde perde, pois se a Briosa tem ganho não sei quais seriam as consequências. A contestação é levada para dentro e fora do campo. Pela primeira vez a final da taça não é transmitida em directo na TV. O Ministro da Educação comete um erro crasso ao vir dizer na TV que a ordem seria restabelecida na Universidade de Coimbra. Ora, se a censura nada deixava passar nada, veio dizer que algo que ninguém sabia se passava em Coimbra. Há estudantes expulsos e incorporados na tropa. Será outro tiro no pé da ditadura, levar os estudantes contestatários para os quartéis, foi Abril 5 anos antes de 1974. Haveria muito mais a dizer, mas o essencial está dito! Dedico o texto a todos e todas que, faz agora 50 anos ousaram dar o passo em frente!

Foto - Alberto Martins

Rui Lopes