A Tricana aguadeira

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De cada lado da ponte e no sitio onde ella formava o O havia uma rampa por
onde se descia para o rio ou para o areal quando aquelle levava menos agua.
De tarde costumavam muitas aguadeiras concorrer a esse areal a fim de,
abrindo poças até á profundidade precisa para apparecer a agua, e depois
d'esta filtrada pela areia, encherem os seus pótes, nome que as aguadeiras e
as creadas de servir dão aos pequenos cântaros, que usam para conducção de
agua.
É notável a perícia com que umas e outras os equilibram sobre uma pequena
rodilha de panno que para isso põem na cabeça.
Muitas pessoas ha que preferem a agua do rio, assim filtrada, para beber,
porque a agua dos diversos chafarizes da cidade, para onde vem do aqueducto
de S. Sebastião, é muito salobra e desagradável.
No inverno e porque, n'esta estação, o rio leva grande volume d´agua e não é
possível a filtração, abastecem-se d´ella, mandando-a buscar a outros
pontos, taes como: — Fonte do castanheiro, próxima á Arregaça; — Fonte do
gato, ou quinta das Sete fontes, pouco distantes do bairro de Santo António
dos Olivaes; e á quinta do Cidral.
(...)
Chamavam Ó da ponte o sitio em que esta, já próximo da margem esquerda,
alargava quasi em circulo, para continuar, depois, com a anterior largura
até á sua extremidade, junto do Rocio de Santa Clara.



Outros tempos ou velharias de Coimbra, 1850 a 1880
Fonseca, A. de Oliveira Cardoso
[Lisboa] : Livr. Tabuense de Francisco Antunes, 1911 - pág. 153/154

João Baeta