A DEMOLIÇÃO DA IGREJA DE S. PEDRO

igreja-de-sao-pedro-em-Coimbra-Demolida.jpg

 

Em Agosto de 1943, com a Europa em ruínas pelos bombardeamentos da II Guerra Mundial, os "talibãs" do Estado Novo dedicaram-se a arrasar a Igreja de S. Pedro (cuja origem remonta pelo menos ao século X, reedificada no primeiro terço do século XII e reformada no último quartel do século XVIII) e todo o quarteirão envolvente.

 

É certo que o templo apresentava sinais de degradação, iniciada quando, em 1854/55, deixou de ser sede de paróquia, e consideravelmente agravada após a sua secularização em 1910 e pela diversidade de usos que depois lhe foram dados: cantina escolar, ginásio e respectivo balneário, sala de ensaios do Orfeão Académico (após a demolição, em 1931, da Igreja de S. Bento), sala de reuniões do Centro Académico Republicano, etc.

 

Mas, se houvesse respeito pelo património histórico, teria sido possível acolher a sugestão de Pierre David ("Sur l'église de São Pedro de Coimbra", texto republicado na "Revista Portuguesa de História", tomo XII, vol. I, Coimbra, 1969, pp. 121-124):

"Pour conclure, il serait infinement désirable que Coimbra pût conserver un monument de son passé tel que São Pedro, et par conséquent de concilier avec cette conservation les éxigences de la Cité Universitaire. Ne peut-on concevoir le moyen de conserver la partie ancienne et de restaurer la partir moderne de façon à faire de ce monument un memorial du passé en même temps qu'un local utilisable pour placer, par exemple, des collections d'archéologie?

En tout cas, si São Pedro est condamné à disparaître, il est indispensable que le démolition soit surveillée par un archéologue qualifié, capable de relever le plan ancien et de sauver tous les vestiges préromans."

 

Apesar dos protestos da imprensa e dos desesperados esforços do director interino do Museu Machado de Castro, P.e António Nogueira Gonçalves (minuciosamente relatados por Nuno Rosmaninho, "O Poder da Arte - O Estado Novo e a Cidade Universitária de Coimbra", Imprensa da Universidade, Coimbra, 2006, pp. 126-137), só se salvaram as arcarias das naves, vendidas ao Colégio de Santa Isabel, e duas pilastras, duas bases e três capitéis recolhidos no Museu Machado de Castro.

Mário Torres